sexta-feira, 26 de junho de 2020

Sobre ser enfermeira numa pandemia

Eu queria muito estar em casa. Cuidando de mim e da minha família. Podendo visitar minha mãe sabendo que não a estou colocando em risco. Sabendo que ficar longe do vírus só depende de mim. Mas eu estou trabalhando. Estou aqui fazendo pré câncer em quem não fez nos últimos 5 anos e agora no meio da pandemia resolveu que precisava. Estou aqui agendando consulta para quem precisa de nutricionista porque engordou 2 kilos. Estou aqui verificando a pressão do senhor que nunca teve pressão alta, mas que não deixa de comparecer duas vezes por semana no posto. Estou aqui para fazer o teste rápido da moça que mais uma vez não usou camisinha e agora tem urgência em saber se está doente. Estou aqui atendendo a vovó que está com dor no joelho. E estou aqui também para atender aquele que jura que não tem nenhum sintoma de gripe, mas que ao entrar no consultório eles subitamente aparecem. E a covid está aqui. Mais próxima que nunca. Maior que nunca. Veio chegando de mansinho, mas está aqui. Quando digo que estou cansada é disso. Do dia a dia que nos sufoca mais que as 8h de máscara. De saber que quem pode não faz e quem deveria estar cuidando de nós está mais preocupado com a economia. Tem dias que só posso agradecer estar de máscara, para enconder minha tristeza e desgosto.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Sobre gêneros - desabafo de uma mãe feminista

Alguns dias atrás meu marido estava trocando a fralda do meu filho (pasmem, pais tb trocam fralda) e me perguntou lá do banheiro se a Minnie era uma princesa. Respondi que não,que era uma ratinha.
Ontem meu filho novamente fez a pergunta aqui em casa. Como o assunto estava voltando, achei que ele esperava uma resposta diferente e respondi que sim, já perguntando se ele gosta de princesas. A resposta foi um convicto não.
Ao perguntar por que ele rapidamente me respondeu: porque eu sou menino.Na mesma hora eu disse que meninos podem sim gostar de princesas, mas fiquei pensando sobre o assunto.

Deve ser muito difícil ser menino em um mundo que ainda faz essa distinção. Como feminista que sou e mãe agora de um casal, fico triste com essa situação. Como ele gosta muito da Minnie e do Mickey, ficou preocupado se poderia continuar gostando, já que alguém deve ter dito pra ele que meninos não gostam de princesas. O pior é que ainda corre o risco de rirem da cara dele se ele gostar.
Eu não fico incentivando meu filho a gostar de coisas ditas “de menina”. Eu tb faço distinção de gênero, afinal coloquei brincos na minha filha e esses dias ele quis colocar batom e eu mesma disse que era de menina. Mas se ele gostar, qual é o problema?
Nossa sociedade reprime as meninas sexualmente e em diversos outros aspectos, mas os meninos são reprimidos nos seus gostos. Não podem dançar, não podem usar certas cores, não podem ter atitudes que possam ser vistas como coisa de “viadinho”. Tem que ser machões! Se minha filha quiser pintar barba e bigode pra ir na escolinha, todo mundo vai achar engraçadinho, "está imitando o pai". Agora experimenta meu filho ir na escola de tiara? Seria um escândalo!

Isso é muito triste pois as crianças, principalmente com dois aninhos, são totalmente puras e inocentes e vejo aos pouquinhos a influência da sociedade com seus paradigmas e preconceitos começando a influenciar meu filho.
Não precisamos ir muito longe, em qualquer loja de brinquedos vemos panelinhas e utensílios domésticos cor de rosa, bonecas são só para meninas. Meu filho então não pode brincar de imitar o pai e brincar de cozinhar ou de cuidar de bebê? Tem que gostar de carros, futebol e super herói.
Por um mundo mais igualitário! Já evoluímos muito nesse aspecto, mas precisamos muito mais!

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Sobre partos e ativismo

Quem trabalha diretamente com parto humanizado seja como ativista, enfermeira, doula, obstetra, se depara constantemente com mulheres que fazem de tudo para ter um parto normal. É uma luta para conseguir dinheiro para pagar profissionais humanizados, conseguir profissionais humanizados, conseguir atendimento hospitalar humanizado, passar por cima da família, dos mitos, dos palpites, conseguir apoio e se empoderar. 

Muitas, mesmo assim, não conseguem, ou conseguem um parto que de normal não tem nada, cheio de violências e humilhações.
Então, se você escolheu a cesarea, apesar de eu não concordar com a escolha, eu respeito. Só lembre-se que:
Você teve o parto que escolheu
Você teve o médico que escolheu
Você ganhou seu filho no hospital que escolheu
Você teve seu parto na data e hora que quis
Você não sofreu violências físicas e emocionais
Você foi respeitada na sua escolha.

Parem de se ofender com nosso ativismo. Ninguém nunca disse que quem faz cesarea é menos mãe, muito pelo contrário, ela as vezes é maravilhosa e salva vidas!


Nós não queremos convencer ninguém a fazer parto normal, nós não lutamos contra vocês e sim contra um sistema que não respeita o direito de escolha. 
Um sistema que impede que as mulheres tenham seus partos com respeito e da maneira que elas escolheram!
Nós só queremos ajudar essas mulheres!

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Tudo é Relativo

Ser mãe é descobrir que três horas de sono passam voando e três minutos pra esterilizar uma mamadeira quando o nene ta chorando são uma eternidade.

Sobre a Maternidade

Esse é um texto que está longe de terminar. O modo como me sinto hoje ainda vai mudar e se repetir muitas vezes. Desde que o Francisco nasceu já mudou tanto, tudo é tão confuso, tudo é tão difícil.
Primeiros dez dias. Pânico. Fase do puerperio. Hormônios a mil! Depois da volta pra casa o nene só chorava. Pouco leite, muito choro. O que eu faço com esse nene? Não vou agüentar! Choro todos os dias junto com ele.
Entra com fórmula. Culpa. Não consigo alimentar meu filho. Nene para de chorar. Era fome. Alívio. Começa a ganhar peso.
Os dias vão passando. Do décimo aos quarenta e cinco, tudo fica bem. Aprendemos a dar o banho. Aprendemos a trocar a fralda. Aprendemos que toda vez que ele chora é fome, que come e dorme por quase três horas.
Consigo fazer de tudo nesse intervalo. Tudo fica fácil. Ele mama no peito, depois na mamadeira. E dorme. Começo a me aventurar a fazer passeios com ele. Bem calminho.
Mas aí as coisas começam a mudar de novo. Saio pra passear e ele chora sem parar. De noite, com 45 dias, ele começa a sorrir. Coisa mais linda do mundo, nos enche de alegria. Começa a ficar mais esperto, enxergar melhor. Ótimo!
Mas junto com isso, começa a ficar um pouco mais agitado. Não sabe o que fazer com essas novas habilidades. E nem eu.
Pânico. O que eu faço com esse nene? Como acalmo? Como faço ele dormir?
Será que estou fazendo a coisa certa?
Começa a largar o peito. Tristeza.
E assim começa tudo de novo. Daqui a alguns dias estaremos habituados com uma nova rotina. Até mudar de novo.
Acho que ser mãe é isso. Sentir pânico, culpa, muito medo. Mas também se derreter a cada nova descoberta do nosso filho


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Sobre ser Filha



Hoje quero te agradecer!

Tu me carregou nove meses na tua barriga, me deu à luz. Agora eu sei como é isso!
Tu me ensinou a comer, a caminhar, a falar. A dormir, a acordar, a ter rotina.
Tu me ensinou a respeitar os outros, meus valores, o que é certo e errado.
Me ensinou a gostar de livros, filmes e a querer ser inteligente. A buscar o que é melhor pra mim.
Me ensinou a gostar de estudar, a gostar de música clássica. 
Me ensinou o quanto vale o dinheiro e a valorizar as coisas que eu tenho. A ser organizada.
Me ensinou que o que importa é ser eu mesmo e não o que os outros pensam de mim.
Tu me ensinou a querer ajudar aos outros e querer ser melhor a cada dia.
Tudo que eu sou, foi porque algum dia, de certa forma, tu me ensinou!
Inclusive que não se escreve "tu me ensinou" e sei que nesse momento tu deve estar mentalmente arrumando meu texto pra "tu me ensinaste"! 
E agora, esse ciclo se fecha para um novo se abrir. Pois agora, quem vai ter que ensinar sou eu.
Será que eu vou ser uma mãe tão boa como tu? Vou conseguir ensinar tudo isso para o meu filho?
Aí eu lembro que tu vai estar sempre ali, ao meu ladinho! Me ajudando mais uma vez e me ensinando mais um pouquinho.
Me ensinando a ser mãe!
Me ensinando a ensinar!!
Te amo muito!
Feliz dia das mães!!

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Sobre Ser Mãe

Quem diz que depois que nascem os filhos a nossa vida muda está muito enganado.

Nossa vida muda a partir do momento em que nos descobrimos grávidas. 
A partir desse dia, tudo que um dia já fomos, de maneira individual, acaba. Nesse dia viramos mães.

Não podemos mais fazer tudo que queremos. Não pode fumar, não pode beber, não pode comer qualquer porcaria, não pode tomar remédios. Não podemos nem nos dar ao luxo de ficar doentes. Tudo porque a partir daí temos que cuidar do nosso filho. 

Já perdemos o sono, pois dormir fica difícil, comemos o que cabe, passamos o tempo todo cansadas, levamos chutes, às vezes em lugares bem desagradáveis e outros tão maravilhosos.

Acho que isso é um treino leve para depois.

Às vezes me pego pensando: quando eu não estiver mais grávida. Aí me dou conta que quando não estiver mais grávida vou ter um filho.

Aquela Vanessa de antes não existe mais.

Agora existe uma nova, que vai ter um bebê e, que a cada dia, a cada minuto em que ele não mexe, a cada dor na barriga, cada vez que precisa tomar um  remédio, morre de medo que alguma coisa aconteça com ele. 

E assim vai ser pra vida inteira! 

Acho que é por isso que a gravidez é tão linda! 

São os últimos momentos de eu mesmo, junto com os primeiros momentos de nós dois!